Em uma conversa recente com Fernando Akio (P&G), surgiu uma provocação valiosa: estamos tratando o bem-estar corporativo como estratégia ou apenas como marketing interno?
A discussão me levou a reler um artigo essencial, escrito pelo professor Mário César Ferreira, psicólogo e referência em saúde organizacional. Nele, Ferreira aponta o risco das empresas usarem ações superficiais de bem-estar para camuflar ambientes tóxicos, exaustivos e desestruturados.
A crítica: “cuidar” sem transformar
Massagens na cadeira, brindes com frases motivacionais, pausas para o café com música ambiente… essas ações não são ruins — mas se tornam problemáticas quando substituem a transformação real da cultura corporativa.
Ferreira chama isso de “Ofurô Corporativo”: uma metáfora para a ilusão de cuidado. A empresa aquece a água, perfuma o ambiente e convida o colaborador a relaxar — sem mudar os fatores que o adoecem diariamente: metas inatingíveis, ausência de autonomia, relações de poder abusivas, sobrecarga e invisibilidade.
O cenário atual é grave — e documentado
O Brasil ocupa lugar de destaque negativo em vários indicadores de saúde mental no trabalho:
- 🔺 86% dos profissionais brasileiros dizem sofrer com problemas de saúde mental relacionados ao trabalho (ISMA-BR, 2024)
- 🧠 A depressão é hoje a principal causa de afastamento do trabalho no Brasil, com mais de 472 mil casos em 2024 (Ministério da Previdência)
- 😫 56% dos profissionais afirmam que a empresa não tem uma política clara de acolhimento emocional (GPTW, 2023)
- ⏱️ O absenteísmo por razões emocionais cresceu 37% entre 2020 e 2024 (FAPESP)
Estes dados revelam que não há espaço para soluções paliativas. O bem-estar precisa deixar de ser evento e se tornar cultura.
O que, então, precisa mudar?
O primeiro passo é entender que ações pontuais não são o problema — desde que façam parte de uma estratégia mais ampla e estruturada. Práticas como meditação, ginástica laboral, quick breaks e experiências integrativas têm papel relevante quando aplicadas em um ambiente com fundamentos saudáveis.
Esses fundamentos incluem:
- Clareza de papéis e metas
- Canais ativos de escuta
- Lideranças preparadas para gestão humana
- Políticas reais de flexibilidade, apoio emocional e reconhecimento
Só assim os “mimos” ganham potência real — são oxigênio para um time já saudável, e não anestesia para uma equipe em colapso.
O que as empresas mais maduras estão fazendo?
Organizações que estão na vanguarda da saúde corporativa estão adotando práticas como:
- Diagnóstico organizacional com dados qualitativos e quantitativos, medindo cultura, engajamento e riscos psicossociais;
- Modelos híbridos de cuidado: dados de IA combinados com análise humana e escuta ativa;
- Programas integrados de bem-estar, que incluem ações recorrentes, ações pontuais e estratégias de impacto cultural;
- Indicadores conectados ao negócio: rotatividade, absenteísmo, produtividade e clima são medidos junto da saúde mental.
Conclusão: bem-estar não se terceiriza
Como alerta o professor Ferreira, “sem mexer no que adoece, o cuidado é apenas anestesia corporativa”. As empresas que desejam ser sustentáveis — de verdade — precisam olhar para o bem-estar como parte da estratégia, da cultura e da liderança.
É hora de evoluir o discurso.
É hora de sair do ofurô — e mergulhar de verdade na transformação.
A proposta da Score: do diagnóstico à ação
Na Score, entendemos que o bem-estar precisa ser tratado como estratégia de negócio — e não como benefício pontual ou modismo. Por isso, desenvolvemos um diagnóstico completo, que combina inteligência artificial com análise humana, mapeando níveis de engajamento, riscos psicossociais, cultura e clima organizacional.
Com esses dados, conseguimos apoiar empresas desde a identificação dos principais gargalos até a implementação de ações concretas e personalizadas, com metas de médio e longo prazo.
E sim — ações pontuais de bem-estar, como exercícios físicos, práticas de mindfulness ou experiências de integração são extremamente bem-vindas. Mas o impacto real acontece quando essas iniciativas são aplicadas em um ambiente já minimamente estruturado, com uma cultura que sustente essas práticas no dia a dia.
A Score entrega soluções de ponta a ponta: ajudamos empresas que ainda não sabem por onde começar e também aquelas que já estão maduras e querem enriquecer suas ações de bem-estar com experiências mais sofisticadas, estratégicas e conectadas com produtividade, pertencimento e retenção de talentos.
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Leitura recomendada:
📘 Ofurô Corporativo, de Mário César Ferreira — Leia aqui
Referências adicionais:
- ISMA-BR – International Stress Management Association – Brasil
- Ministério da Previdência (Relatórios de Afastamentos 2024)
- GPTW – Pesquisa de Clima e Bem-Estar 2023
- Revista Fapesp – Saúde Mental e Trabalho